Considerada a maior rodada de confecção do Brasil, a Pronegócio movimenta, a cada edição, centenas de fabricantes e lojistas de quatro a cinco dias em Brusque, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. O objetivo é facilitar as negociações entre as marcas e compradores e girar a economia da região.
Anualmente, a Associação das Micro e Pequenas Empresas de Brusque e Região (Ampebr) realiza quatro edições do evento, com a apresentação das coleções de Inverno, Primavera/Verão, Alto Verão e Outono/Inverno. Com a edição que finaliza nesta quinta-feira, 26, já foram realizadas 56 Pronegócios em Brusque desde 1997, evidenciando a sua relevância para todo o setor.
Como se trata de um evento extremamente importante para a cadeia têxtil de Brusque e região, a Ampebr precisou se adaptar para realizar a Pronegócio, mesmo durante a pandemia da Covid-19.
“A nossa Pronegócio já era um evento consolidado. Então veio a pandemia e ficamos sem saber até onde poderíamos agir. Era tudo muito incerto”, diz a presidente da Ampebr, Sandra Neli Werner.
Não poderíamos ficar sem o evento porque seria extremamente danoso para as empresas e, consequentemente, para a economia da nossa região
A 53ª edição do evento que estava programada para acontecer em maio de 2020, na Sociedade Beneficente e Recreativa Santos Dumont, foi cancelada. A associação, entretanto, preocupada com a sustentabilidade das empresas, principalmente das micro e pequenas, que dependem dos negócios gerados durante a Pronegócio para se manterem ativas, foi em busca de alternativas para promover a rodada de confecção.
“Não poderíamos ficar sem o evento porque seria extremamente danoso para as empresas e, consequentemente, para a economia da região”, destaca Sandra.
Com isso em mente, a entidade começou a estudar formas para realizar o evento, dentro de todas as regras e cuidados que o momento exigia. Várias reuniões para discutir o assunto foram realizadas até chegar ao modelo da Pronegócio Web, alternativa encontrada para possibilitar as negociações entre clientes e fabricantes do segmento de confecção.
Encurtando distâncias com a internet 38h66
Assim como boa parte do mundo, a solução encontrada para continuar trabalhando ‘normalmente’ foi a internet. E, em pouco tempo, o evento que sempre foi presencial, foi realizado on-line.
Uma plataforma própria foi desenvolvida pela empresa DSIX Tecnologia. No sistema, os lojistas tiveram o a um showroom virtual, com fotos padronizadas de 10 mil looks disponibilizados para negociação, no qual cada empresa participante tinha 60 referências disponíveis.
Os clientes cadastrados para participar da Pronegócio Web tiveram o a esse sistema, com a visitação virtual do showroom. Com isso, foi possível avaliar todos os modelos disponíveis e fazer a negociação com os fabricantes, assim como acontece na forma presencial.

“O lojista agendava, e na hora marcada, estava on-line o fornecedor e o comprador. A negociação acontecia por vídeo. O fornecedor tinha a oportunidade de mostrar outras peças, de tirar dúvidas em relação ao material utilizado, aos prazos de entrega. Toda a venda era fechada on-line”, lembra a presidente da Ampebr.
Foram realizadas duas Pronegócios no formato web em 2020. Na edição de estreia do modelo, participaram 150 empresas fabricantes de Santa Catarina, e cerca de 600 lojistas de todo o país. Já na segunda edição foram 140 fabricantes e mais de 600 compradores.
Embora tenham contado com uma boa participação, as duas edições on-line da Pronegócio tiveram uma redução no número de negociações, o que já era esperado pela associação e pelos fabricantes. Ainda assim, o modelo é visto pela entidade como um case de sucesso e um exemplo de superação em meio a um momento tão crítico para as empresas quanto o da pandemia da Covid-19.

“Sabendo da responsabilidade, criamos e inovamos com a Pronegócio Web. A sensação é de dever cumprido. A Ampebr cumpriu seu papel como entidade”, avalia Ademir José Jorge, que presidia a Ampebr durante a realização das rodadas web.
Parceiro da Ampebr desde a primeira edição da Pronegócio, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) teve parte importante na realização da rodada web. O gerente regional da Foz do Itajaí, Alcides Sgrott Filho, classifica a experiência como excelente.
De acordo com ele, o Sebrae deu apoio na parte de capacitação das micro e pequenas empresas participantes, já que muitas ainda não estavam familiarizadas com a realização de negócios pela internet.
“O Sebrae apoiou empresas para conseguirem ter estrutura e participar das rodadas on-line. A capacitação digital prestada foi fundamental porque fortaleceu muito o trabalho, não só durante as rodadas web, mas para entrarem de vez no mundo digital. A Pronegócio Web foi só o empurrão que precisavam”.
Formato “shopping” veio para ficar 5l2b4m
Já em 2021, com a situação da pandemia mais controlada e algumas flexibilizações, a Ampebr retomou a Pronegócio de forma presencial. Porém, ainda adaptada, em um modelo diferente do que era realizado antes da Covid-19.
Era preciso seguir todas as medidas de segurança, manter o distanciamento e evitar aglomerações, por isso, surgiu a Pronegócio – Edição Shopping. Na nova edição, o formato das negociações foi adaptado com o objetivo de reduzir ao máximo a circulação dentro do local escolhido para o evento: o shopping River Mall.
A Pronegócio foi realizada em um espaço de 2 mil metros quadrados, com o tradicional showroom. Os boxes de negociação foram montados de forma organizada e com distanciamento, nos espaços das salas comerciais vagas do River Mall. Anteriormente, as araras com as peças circulavam o tempo todo dentro do espaço da Pronegócio. Os lojistas ficavam dentro de uma sala, esperando serem chamados pelos fornecedores para negociar.

No formato shopping, o modelo foi invertido. Agora, os fornecedores aguardam em seus espaços os lojistas para as negociações.
“É como se fosse um shopping mesmo. O lojista visita o showroom e aí agenda com o fornecedor, que estará o aguardando para a negociação. Desta forma, aconteceu uma redução de circulação de pessoas e aglomerações. Conseguimos distribuir de uma forma confortável. E com a mudança, verificamos novas maneiras de funcionar, que agradaram ambas as partes”, destaca a presidente da Ampebr.
Nas edições shopping, a entidade reduziu o número de fabricantes presentes e também o de compradores, para poder se adequar às regras sanitárias. A primeira edição presencial durante a pandemia reuniu 120 fabricantes e em torno de 500 lojistas. O segundo evento neste modelo teve números semelhantes.
O resultado das duas rodadas realizadas no novo layout surpreendeu a presidente da entidade. “Os números conseguiram chegar perto do que tínhamos nas Pronegócios antes da Covid-19. O número de negócios por fornecedor aumentou, porque diminuímos os fornecedores e mantivemos os compradores, então foi tudo muito positivo”.
O novo modelo, inclusive, deve se tornar permanente, já que agradou todos os participantes. Nesta última edição, realizada na Sociedade Santos Dumont, o formato se manteve.
“A onda vai muito longe” v1xs
De acordo com o Plano de Desenvolvimento Econômico de Brusque (Pedem), desenvolvido dentro do programa Cidade Empreendedora do Sebrae, 92,1% das empresas do município são microempresas e 6,9% são consideradas pequenas. Juntas, as micro e pequenas empresas são responsáveis por 60,1% dos empregos de Brusque.
Quando avaliadas as principais atividades econômicas de Brusque em volume de empresas, as de confecção de artigos do vestuário e órios estão em terceiro lugar, representando 10,1% do total. Já em relação à geração de empregos, o setor de confecção de artigos de vestuário e órios representa 12,1%, de acordo com o Pedem.

“Brusque é um município muito forte neste setor da moda, da confecção e da malharia. A cidade se destaca em produtividade e a maior parte das empresas são pequenas ou micro. Por isso, foi fundamental a adaptação da Pronegócio durante os meses mais críticos da pandemia, para poder dar um fôlego e manter essas empresas ativas”, ressalta o gerente regional do Sebrae, Alcides Sgrott Filho.
A presidente da Ampebr, Sandra Neli Werner, destaca a importância da Pronegócio para a economia da cidade, pois muitas empresas dependem das vendas na rodada para produzir.
“Neste período difícil, conseguimos manter a economia girando. Temos uma particularidade no setor de confecção que são muitos serviços terceirizados. E esse fornecedor que participa da rodada gira uma roda da economia muito maior do que parece, por isso a importância da Pronegócio. A onda vai muito longe, não para no comprador e no fornecedor. Conseguirmos realizar as rodadas durante a pandemia foi muito importante para todos”.
A onda vai muito longe, não para no comprador e no fornecedor. Conseguirmos realizar as rodadas durante a pandemia foi muito importante para todos
O vice-presidente da Federação das Associações de Micro e Pequenas Empresas e dos Empreendedores Individuais (Fampesc), Luiz Carlos Rosin, destaca que a Pronegócio tem sido um grande divisor de águas para as pequenas e médias empresas, não apenas de Brusque, mas de todo o setor têxtil do estado.
“Foi um momento de grande dificuldade e a alternativa que surgiu deu certo. O sistema de negócio mudou muito. Foi preciso sair do convencional para o on-line e as pequenas empresas foram se adaptando, buscaram conhecimento com o Sebrae, com a federação e conseguiram ar por esse período com a ajuda da Pronegócio”.