Mulher que fez a primeira denúncia contra psicólogo preso em Brusque relata que filha foi abusada no consultório: “gritou por socorro” 4l1v63
Criança enfrentava um câncer na época e descreveu para a mãe o que o profissional fez com ela
Criança enfrentava um câncer na época e descreveu para a mãe o que o profissional fez com ela
O jornal O Município conversou, com exclusividade, com a mulher responsável por denunciar o psicólogo Guilherme Silveira em 2022. Ela alega que, na época, o profissional abusou da filha dela, que tinha apenas 4 anos e era paciente dele. Na última sexta-feira, 30, o profissional foi preso suspeito de abusar sexualmente de um menino de 8 anos durante uma consulta em Brusque. O crime teria ocorrido em abril.
Durante seu relato, a mulher contou que a denúncia não teve o andamento esperado. Por isso, lamentou a demora das autoridades em prender Guilherme e impedir que ele, supostamente, continuasse a cometer abusos contra outros pacientes.
“Agora precisou um menininho sofrer nas mãos dele, é lamentável. Podem ter certeza que existem mais crianças foram abusadas e molestadas como minha filha e este menino. O pior é que muitos pais podem não falar por sentirem vergonha”, disse a mulher.
Alerta de tema sensível – Esta matéria aborda o relato de abuso infantil, conteúdo que pode ser impactante para alguns leitores. Recomendamos a leitura com cautela.
A denunciante explica que a filha, que também travava uma luta contra um câncer desde os quatro meses de idade, era atendida, em 2022, por outra psicóloga em um espaço de atendimento no bairro Dom Joaquim. A profissional, após ser aprovada em um concurso, indicou outros dois psicólogos à mãe, entre eles estava Guilherme, que foi escolhido.
Ao conversar com o profissional, a mulher relatou que já tinha muitos gastos com a criança, que possuía necessidades específicas devido à doença que enfrentava. O psicólogo então ofereceu realizar cada sessão por R$ 100, o que atraiu a mãe, pois assim poderia manter os atendimentos psicológicos da filha sem comprometer ainda mais o orçamento da família, que já estava apertado na época.
“Começamos a ir no consultório dele, que era uma pessoa muito legal. Parecia ser muito querido. Na época, a minha filha tinha 11 médicos (hoje tem 8) e chamava todos eles de ‘amiguinhos’. Após uma das sessões com Guilherme, ela começou a apresentar comportamentos estranhos. Comentei isso com ele pois pensei que era alguém da escola ou um algum amigo ou professor. Eu notava bem essas reações dela”.
A mãe explica que a criança era atendida sozinha pelo profissional, como é o protocolo padrão nesse tipo de acompanhamento. Também relata que, uma vez por mês, havia uma reunião geral, na qual participava ao lado da filha para acompanhar o progresso do tratamento.
No entanto, em uma das idas ao consultório, notou algo que considerou estranho: o psicólogo gostava de colocar música em volume alto durante os atendimentos.
“Ele sempre ligava o som em uma música ambiente e fechava a porta. Eu reclamava disso para ele. Ele aumentava o som e eu abaixava. Ele dizia que a música era para que eu pudesse relaxar, mas eu falei que não gostava, pois durante a espera eu gostava de ler livros e a música me atrapalhava. Infelizmente, demorou para que eu percebesse algo”.
Em uma das sessões, a mulher relata que ouviu a filha gritar de dentro do consultório. Ao tentar abrir a porta, uma outra mulher, que aguardava o filho sair do consultório de outra profissional, disse que não era incomum que os pacientes gritassem ou se assustassem durante algumas sessões.
“Ela gritou por socorro e eu levantei para empurrar a porta, mas estava estava fechada, acho que ela só abria por dentro. Não deu cinco minutos e ele (o psicólogo) veio dizer que era (filha) queria ir ao banheiro. Levei ela no banheiro e perguntei o que tinha acontecido, mas ela não comentou nada”.
Porém, foi na consulta posterior a essa que a mãe disse ter percebido que algo estranho estava de fato acontecendo. Ao chegar no consultório, relata que o profissional abriu a porta e a criança foi correndo até ele. Após abraçá-lo, a menina, segundo o relato da mulher, pegou “no meio das pernas dele”.
“Ela (filha) falou: assim que você gosta amiguinho? Ele travou na minha frente. Olhei para ele e fingi que não tinha visto nada. Respirei fundo e aí neste dia ele deixou a porta ‘meio aberta’. Eles fizeram uma consulta e ela saiu.
Ao questionar o que os dois faziam durante a consulta, a filha disse para a mãe que os dois brincavam. Quando perguntou para a filha sobre o que brincava, a menina relatou situações que não deixaram dúvida de que havia o abuso.
A mãe ao ouvir o relato da filha, não pagou a última sessão com o profissional e procurou outra psicóloga para buscar uma opinião. A profissional disse que, pelo relato detalhado da criança, estava claro que ela tinha sofrido um abuso.
“Peguei o laudo dessa psicóloga e fui para a delegacia. Eles pediram um corpo de delito e levei ela para fazer. Examinaram ela, mas o bumbum não. Na hora, também, acho que o nervosismo, nem ou pela minha cabeça pedir para olharem ali. No exame, não teve penetração nenhuma, foi o que eles me disseram”.
A mulher comenta que a polícia conversou com a psicóloga que ou a atender a criança, mas que um psicólogo da polícia só falou com a profissional quase um ano depois. Um áudio da criança relatando o abuso, segundo a mãe, foi reado ao profissional da polícia.
“Em nenhum momento ataquei ela (filha). Só fui perguntando como eram as brincadeiras. Ela ia contando do ‘jeitinho torto’ delas, mas ia contando. Dava para entender o que ela estava falando no áudio. Disseram para mim aguardar e que eles iriam ver o que fazer. Eu falei para eles (polícia) que não deveriam esperar outra criança ser totalmente violada”.
Ela afirma que entendeu o caso como “encerrado, fechado”. Disse que perguntava para a polícia e mandava mensagens, mas nunca recebeu nenhuma resposta sobre o prosseguimento do caso.
“Tenho certeza que tem mais crianças sofrendo com isso. Pode ser que hoje não apareça, mas é que tem mães que têm vergonha de itir que elas não escutaram o que os próprios filhos estavam falando e que achavam que era mentira. Quem olha para ele (psicólogo suspeito), jamais imagina um negócio desse”.
A mulher diz que até hoje a filha tem reflexos do abuso denunciado. Ela diz que não podia ar com a filha perto do prédio onde fica o consultório, pois a filha tinha crise. “Ela brigava, chorava porque queria ver ele. Queria brincar com ele e amava ele. Imagina uma criança de quatro anos dizendo que amava o ‘amiguinho’ dela”.
“O que posso dizer é que a justiça não deu importância porque eu não tinha ‘provas’, apenas o relato da minha filha. Imagina se uma criança vai mentir sobre isso?”.
Por fim, a mãe complementa. “Tu paga para um profissional cuidar da sua filha e o cara estava lá molestando ela. Você percebe algo estranho, mas nunca imagina que seja aquele profissional, e ainda pede para ele investigar o que poderia estar acontecendo. Ninguém fez justiça, e agora outra criança precisou sofrer nas mãos dele. Eu sinto vergonha por ter demorado a perceber que era ele. Sinto raiva de mim mesma por isso. Gostaria que os pais, ao descobrirem algo assim, conversassem com os filhos e escutassem o que eles têm a dizer. Tenho certeza de que minha filha e aquele menino não foram os únicos”, lamentou.
Em contato com a Delegacia Regional da Polícia Civil, o jornal O Município apurou que, em razão do sigilo legal que envolve investigações desse tipo de crime, não é possível fornecer detalhes sobre o caso.
No entanto, o que se pode afirmar, segundo a delegacia, é que os fatos narrados foram devidamente registrados e resultaram na instauração de inquérito policial pela Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI), no ano de 2022.
“O procedimento seguiu seu trâmite regular, com todas as providências cabíveis adotadas pelas autoridades competentes. Em outras palavras, houve a instauração do inquérito e o caso foi encaminhado ao poder Judiciário”, informou a delegacia, por meio de nota.
Em contato com uma fonte do Judiciário, o jornal O Município obteve a informação de que o processo está em sigilo, mas ainda não se sabe se foi arquivado ou não. “Esta situação virá nos antecedentes dele e estará no processo de agora”, disse a fonte.
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